quarta-feira, 23 de janeiro de 2008

Dívidas globais

Países mais ricos são os que mais causam danos ambientais, mas os pobres ficam com a maior parte da conta, destaca estudo que calcula em US$ 47 trilhões os principais prejuízos das atividades humanas entre 1961 e 2000 (Nasa)
Divulgação Científica

22/01/2008

Agência FAPESP – O crescimento econômico tem um preço, que não recai de maneira uniforme em todos envolvidos. Como o meio ambiente vai além de fronteiras políticas, o impacto de danos ecológicos promovidos por um país é sentido em outros e eventualmente em todo o mundo.

Esse raciocínio estimulou um grupo de cientistas baseado nos Estados Unidos e no Canadá a tentar determinar que países estão à frente dos danos ambientais e quais têm pago mais por isso. Os resultados do estudo foram publicados nesta segunda-feira (21/1) na edição on-line e estarão em breve na versão impressa da revista Proceedings of the National Academy of Sciences (Pnas).

De acordo com os pesquisadores, os danos foram promovidos especialmente pelos países mais ricos, mas os impactos têm ocorrido em outros locais.

“À medida que os impactos humanos no ambiente se aceleram, aumentam as disparidades na distribuição dos danos entre os países ricos e pobres. Até agora, não haviam sido estimadas a distribuição dos prejuízos ecológicos nem suas forças motrizes”, descreveram os autores.

Thara Srinivasan, do Laboratório de Ecologia Computacional da Universidade da Califórnia em Berkeley, e colegas estimaram os custos das atividades humanas de 1961 a 2000 divididos em seis categorias principais: mudanças climáticas, redução do ozônio estratosférico, intensificação e expansão agrícola, desflorestamento, pesca predatória e conversão de mangues.

Os resultados foram alarmantes. Segundo o estudo, as seis categorias representaram custos no período de US$ 47 trilhões, em valores atuais. Outra constatação é que o impacto dos danos ambientais nos países mais pobres representa freqüentemente um peso financeiro maior do que os valores de suas dívidas externas, por conta de fatores como a degradação de áreas agrícolas, esgotamento de reservas naturais ou poluição.

Um dos principais indicadores destacados foi o da emissão de gases causadores do efeito estufa. O grupo das nações mais pobres foi responsável por 13% das emissões, apesar de contar com 32% da população mundial. Os países mais ricos, com 18% da população, responderam por 42% das emissões. Os em desenvolvimento, considerados para o estudo como de renda média, com 50% da população, ficaram com 45% das emissões.

“Em uma base per capita, estimamos que os cidadãos com maior renda foram responsáveis por 5,7 vezes mais emissões do que os de menor renda, mas esses últimos acabaram com um impacto econômico por danos climáticos mais de duas vezes maior do que o valor de suas emissões”, ressaltaram.

Apesar de destacarem que os valores da pesquisa não precisam ser interpretados literalmente, os autores sugerem que a globalização e o crescimento econômico devem levar em conta os custos ecológicos.

O artigo The debt of nations and the distribution of ecological impacts from human activities, de U. Thara Srinivasan e outros, pode ser lido por assinantes da Pnas em www.pnas.org.


http://www.agencia.fapesp.br./boletim_dentro.php?data[id_materia_boletim]=8324


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