domingo, 7 de dezembro de 2008
O Plano Estratégico Nacional de Defesa terá como um dos objetivos essenciais a proteção da Amazônia e área marítima (zona do pré-sal)
José Meirelles Passos
WASHINGTON - O ministro da Defesa, Nelson Jobim, deixou claro nesta sexta-feira - falando a acadêmicos americanos, funcionários do governo dos Estados Unidos e investidores internacionais - que o Plano Estratégico Nacional de Defesa, a ser aprovado nos próximos dias, terá como um de seus objetivos essenciais a proteção da Amazônia e também da área marítima onde o Brasil vai explorar petróleo em águas profundas (a zona do pré-sal).
- O submarino de propulsão nuclear que vamos construir, em colaboração com a França, será destinado a defender a área que vai de Vitória a Santos - disse ele, acrescentando que o Brasil também produzirá três submarinos convencionais, movidos a diesel.
" A tradição do Brasil é a de não recorrer ao conflito nunca. Mas, se tiver necessidade disso, é preciso ter condições para encarar a situação "
Jobim teve participação intensa, interrompida duas vezes por aplausos, no seminário "Perspectivas para as relações Brasil-EUA no novo governo americano", promovido pelo Woodrow Wilson Center, na capital americana. Ele reafirmou que o Brasil é um país pacífico, mas sugeriu que não titubearia em utilizar a força caso isso seja necessário. A nova política de defesa, disse, visa a deixar o país preparado para qualquer emergência:
- A tradição do Brasil é a de não recorrer ao conflito nunca. Mas, se tiver necessidade disso, é preciso ter condições para encarar a situação. Precisamos ter capacidade de dizer não. É o que chamamos de capacidade dissuasória de defesa.
O ministro foi incisivo ao falar sobre a Amazônia, região que provoca freqüentes discussões entre os americanos. Eles gostariam de vê-la intocada. Jobim disse que esse tipo de pressão, feita por políticos e organizações ambientalistas estrangeiras, não será mais aceita pelo Brasil:
" O Brasil sabe que compete a ele preservar esse espaço, para o bem do país e do mundo "
- A Amazônia tem uma agenda ecológica que é produzida fora do país e que acaba empurrando a sua população de 20 milhões de pessoas para a marginalidade, pois acham que a região não pode se desenvolver. O Brasil sabe que compete a ele preservar esse espaço, para o bem do país e do mundo. Mas isso cabe apenas ao Brasil fazer, e do jeito que acharmos melhor. Não vamos fazer isso para o deleite de europeus que desejam um parque cheio de árvores para visitas de fins de semana - afirmou, sob aplausos.
Povo da Amazônia precisa de "trabalho e renda"
Ele disse ainda que a população da Amazônia "não precisa de esmola mas sim de trabalho e renda". E concluiu:
- Se não houver isso, ela vai para a economia informal e a ilegalidade, para sobreviver.
O ex-subsecretário de Estado para Assuntos Políticos, Thomas Pickering, foi taxativo:
- Devemos respeitar o que Jobim disse sobre a questão ecológica. O Brasil é agora um poder emergente.
" Devemos respeitar o que Jobim disse sobre a questão ecológica. O Brasil é agora um poder emergente "
John Danilovich, ex-embaixador dos EUA em Brasília, disse que o novo governo precisa se engajar com o Brasil em assuntos internacionais deixando de ver o país apenas como grande vizinho:
- O Brasil já chegou à maturidade. Deixou de ser o país do futuro: o Brasil já chegou lá.
Blairo Maggi participou do evento
O governador do Mato Grosso, Blairo Maggi, que participava do evento, reforçou o argumento de Jobim sugerindo que os estrangeiros deveriam pagar pela preservação da Amazônia:
- Queremos uma política própria para a Amazônia. Mas vamos precisar da ajuda do resto do mundo.
Jobim participou de um painel em que se discutiu se há espaço para o relacionamento estratégico entre os dois países. Vários participantes trataram de definir, segundo seus cálculos, o atual grau de relacionamento. O ministro brasileiro demonstrou estar cansado desse tipo de discussão:
- Não temos mais tempo para pensar em aprofundamento de diálogo. Devemos é pensar no que se pode fazer imediatamente.
Demonstrando impaciência com discussões apenas retóricas, ele arrematou, provocando risos na platéia:
- Não importa se a parceria é estratégica, meio estratégica ou relativamente estratégica. Essas questões semânticas deixamos para os companheiros do Itamaraty, que são bons em lidar com advérbios e com adjetivos.
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quarta-feira, 23 de janeiro de 2008
Dívidas globais
Países mais ricos são os que mais causam danos ambientais, mas os pobres ficam com a maior parte da conta, destaca estudo que calcula em US$ 47 trilhões os principais prejuízos das atividades humanas entre 1961 e 2000 (Nasa) |
Divulgação Científica |
22/01/2008
Agência FAPESP – O crescimento econômico tem um preço, que não recai de maneira uniforme em todos envolvidos. Como o meio ambiente vai além de fronteiras políticas, o impacto de danos ecológicos promovidos por um país é sentido em outros e eventualmente em todo o mundo.
Esse raciocínio estimulou um grupo de cientistas baseado nos Estados Unidos e no Canadá a tentar determinar que países estão à frente dos danos ambientais e quais têm pago mais por isso. Os resultados do estudo foram publicados nesta segunda-feira (21/1) na edição on-line e estarão em breve na versão impressa da revista Proceedings of the National Academy of Sciences (Pnas).
De acordo com os pesquisadores, os danos foram promovidos especialmente pelos países mais ricos, mas os impactos têm ocorrido em outros locais.
“À medida que os impactos humanos no ambiente se aceleram, aumentam as disparidades na distribuição dos danos entre os países ricos e pobres. Até agora, não haviam sido estimadas a distribuição dos prejuízos ecológicos nem suas forças motrizes”, descreveram os autores.
Thara Srinivasan, do Laboratório de Ecologia Computacional da Universidade da Califórnia em Berkeley, e colegas estimaram os custos das atividades humanas de 1961 a 2000 divididos em seis categorias principais: mudanças climáticas, redução do ozônio estratosférico, intensificação e expansão agrícola, desflorestamento, pesca predatória e conversão de mangues.
Os resultados foram alarmantes. Segundo o estudo, as seis categorias representaram custos no período de US$ 47 trilhões, em valores atuais. Outra constatação é que o impacto dos danos ambientais nos países mais pobres representa freqüentemente um peso financeiro maior do que os valores de suas dívidas externas, por conta de fatores como a degradação de áreas agrícolas, esgotamento de reservas naturais ou poluição.
Um dos principais indicadores destacados foi o da emissão de gases causadores do efeito estufa. O grupo das nações mais pobres foi responsável por 13% das emissões, apesar de contar com 32% da população mundial. Os países mais ricos, com 18% da população, responderam por 42% das emissões. Os em desenvolvimento, considerados para o estudo como de renda média, com 50% da população, ficaram com 45% das emissões.
“Em uma base per capita, estimamos que os cidadãos com maior renda foram responsáveis por 5,7 vezes mais emissões do que os de menor renda, mas esses últimos acabaram com um impacto econômico por danos climáticos mais de duas vezes maior do que o valor de suas emissões”, ressaltaram.
Apesar de destacarem que os valores da pesquisa não precisam ser interpretados literalmente, os autores sugerem que a globalização e o crescimento econômico devem levar em conta os custos ecológicos.
O artigo The debt of nations and the distribution of ecological impacts from human activities, de U. Thara Srinivasan e outros, pode ser lido por assinantes da Pnas em www.pnas.org.
http://www.agencia.fapesp.br./boletim_dentro.php?data[id_materia_boletim]=8324